Diário de um dia no presídio - Jeanne
- Bruna Mundim
- 10 de jun. de 2024
- 3 min de leitura
Durante os 38 dias que ficamos presas, nós escrevemos todos os dias relatando como eram nossos dias dentro daquele presídio. Duas brasileiras que estavam lá me ajudaram a pedir papel e caneta, eram uma forma de passar o tempo, escrever.

Vou transcrever aqui para vocês um dia aleatório entre aqueles 38 dias, não irei mudar nenhuma palavra, não sei se será um dia razoável ou ruim. Escolhi o dia 29 de março de 2023. Já tinha vinte e quatro dias que estávamos lá, vamos ver como foi esse dia...
“ 29/03 quarta feira – Seguimos aqui no presídio...ontem ligamos p/ a Isabela e p/ a Luna e elas disseram que a única forma de acelerar o processo na justiça alemã é colocar na mídia do Brasil e da Alemanha, através da nossa nova advogada. Nós concordamos, porque não temos absolutamente nada a esconder e esse não é o lugar que deveríamos estar, eles prenderam as pessoas erradas e a palavra “justiça” deixa de ter significado se eles nos mantém aqui, já com todas as provas da nossa inocência em mãos, a justiça deve prender sim, criminosos, mas deve libertar inocentes.
Os dias aqui ficam cada vez mais difíceis porque nosso corpo e nossa mente já estão no limite. As horas não passam, não sabemos o que está acontecendo no Brasil, nossas vidas estão paradas, estacionadas no tempo. Tínhamos muitos planos para o nosso retorno, o que era uma viajem de comemoração, virou um pesadelo. Os guardas andam com as chaves na cintura, todas as vezes que escuto o chacoalhar das chaves contra o corpo deles meu coração dispara, nunca sei se irão abrir minha porta, me tirar daqui e me afastarem da Kátyna, várias meninas mudam de andar, mas não sei o motivo.
Acho que sem exageros, só estou lúcida ainda porque fico ansiosa p/ as portas abrirem e encontrar a Kátyna, tenho sensação de segurança e ela sempre me diz que tudo vai ficar bem e que logo iremos sair daqui e além disso conversamos e lembramos de várias coisas da nossa vida em Goiânia que nos fazem rir, principalmente o Jhonny e o Legrand são motivo das nossas risadas aqui, eles também estão nos salvando. O corpo já amanhece dolorido todas as manhãs, na verdade madrugada, nunca sei que horas são ou acordo.
É difícil dormir aqui e acordo várias vezes na noite com dor no corpo e no pescoço, a cama e o travesseiro são péssimos, além do barulho de todas as noites... chaves, portas, guardas, cadeados, algumas mulheres surtam e começam a gritar de madrugada, bater nas portas, nas grades enfim... é um pesadelo todas as noites. Mas tento não falar de coisas ruins quando estou com a Kátyna, talvez seja uma forma de nos mantermos bem. A única coisa que queremos é ter a nossa liberdade que é direito e irmos embora para nossa casa, sonho com um banho no meu chuveiro e dormir na minha cama com a Kátyna, o Legrand e o Jhonny, como sempre fizemos.”
Bom, não mudei nenhuma palavra, provavelmente tenha alguns erros de português e como eu nunca sabia se eu iria conseguir mais papel com os guardas, porque dependia do humor deles, eu escrevia sem parágrafos e tentava abreviar as palavras para economizar papel. Então, esse foi um dia meu em poucas palavras no presídio.
No próximo vou transcrever o mesmo dia da Kátyna para ver como foi esse mesmo dia para ela.
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